Wednesday, January 31, 2007


OS POROS CHORAM

os poros choram
por momentos imploram
pelo prazer proibido

os poros choram
por vezes oram
por um amor perdido

e os poros choram
enquanto se enamoram
o sabido e o desconhecido


Saturday, January 27, 2007


MUDANÇAS
nós os mundanos mudamos
de casa
de emprego
de roupa
mas não de nós mesmos
apenas fugimos
o máximo que podemos
para cairmos mortos
no fim da estrada







OBNUBILADO

O tempo e os olhos se fecham

um para o sol
o outro para a vida


CORRENTEZA

As águas de Março
são águas passadas,
perdidas como as matas
onde cantavam os sabiás

O riacho foge para o rio,
O rio para o mar,
E o mar?

Morre lentamente
Com água na boca.

Friday, January 26, 2007


nauseante tormento
aquele pensamento
que não escolhe o momento
nem se dissipa com o vento
me pega desatento
lento
lento
lento
e de tanto amedrontamento
esqueço do sentimento
para evitar tamanho lamento

Wednesday, January 24, 2007


A VISITA
quando visitares minha casa
colocarei meu coração na janela
e se quiseres saber como eu sou
basta dar uma olhadela
se mesmo assim
quiseres ainda mais um pouco
podes adentrar todas as portas
porque deixo meus sonhos soltos
mas se nada disso for suficiente
feche a porta e vá embora
porque o restante de mim
caminha normalmente lá fora

o amor é como uma flor
que começa semente
dentro do coração da gente
a flor precisa d'água
como o amor também
e por isso inventaram a lágrima
para regar a semente
até romper o peito
e descobrir o que se sente
a flor precisa de alimento
como o amor também
e por isso inventaram o carinho
para nutrir a muda magrela
até ficar forte o bastante
e como o amor, morrer sozinho
O HOMEM E O MONSTRO
estranhamente
os sonhos frustrados
alimentam os monstros
escondidos nas cavernas obscuras
de nosso subconsciente
e eles nos protegem
de nós mesmos
ESPELHO, ESPELHO MEU!
Espelho, espelho meu!
Quem é aquele homem
do sorriso maroto,
que cedo escova os dentes
e penteia os cabelos?
Espelho, espelho meu!
Quem é ele
que se veste como um príncipe
e sai perfumado sem me avisar?
Espelho, espelho meu!
Como ele pode ser assim
tão despreocupado de tudo,
sem lágrimas e desilusões?
Espelho, espelho meu!
Porque ele chega no final do dia
de cabelos molhados,
peito desnudo,
escova os dentes
e se despede sorrindo?
Espelho, espelho meu!
Existe alguém mais feliz
do que aquele que sou EU
do outro lado teu?

Monday, January 22, 2007




REBIRTH

sometimes I dive so deeply
into my consciousness
that I find strange oceans
where there are no words
no rhymes n' no feelings
there I keep swimming
'cause my lungs don't need air
my heart doesn't need blood
n' my mind is completely free
for months n' months
I observe my sins
being destroyed by sharks
n' then... I wait peacefully
for the right tide
for the will of the sea
until the day of my rebirth

Sunday, January 21, 2007


CAIXINHA DA SAUDADE
que eu não sei
muito bem onde fica
eu guardo todos os abraços
os beijos e os meus pedaços
é onde minha solidão
vai e vem
é onde o meu coração
desembarca do trem
é também aqui
é sentir tudo de novo
sem ter a realidade
como testemunha dos meus atos

Saturday, January 20, 2007


COMA

olhos fechados
investigam interiores
vozes caladas
falam verdades desconhecidas


RESTOS DE SONHOS

restos de sonhos

perdidos no tempo

costuram-se ao vento

e voltam como vendavais

Tuesday, January 16, 2007


















De repende, não mais que de repente
a solidão encontra a paixão
numa esquina movimentada
de sentimentos absurdos

De repente, não mais que de repente
tornam-se amigas
e voltam pra casa juntas
de mãos dadas

E de repente, não mais que de repente
uma parece engolir a outra

Saturday, January 13, 2007


A ROMARIA DE MARIA


Maria limpava o fogão, depois a pia e depois o chão.
E quando ficava entediada, pobre da casa arrumada!

Ela mudava os móveis e derrubava as paredes,
banhava os gatos e podava os verdes.

Maria mudava de cor, de sabor e de humor...

Maria morava na rua das lavadeiras
Onde todas eram parideiras.
E ela com o ventre seco
escondia-se nos fundos de um beco.

“Oh, Virgem Maria!” rezava todo dia.
Queria sexo pra aliviar o corpo...
enquanto esperava, sob a lua suada,
aquele homem de barba cerrada
que num beijo molhado
mudaria Maria.



O GRITO

Escreva-me aquelas cartas
E pede pro carteiro vir depressa

Basta ele seguir o grito
Do meu coração solitário

Wednesday, January 10, 2007





DEPOIS DA TEMPESTADE

felicidade como aquela
talvez eu nunca mais
venha a sentir...

a cumplicidade do olhar
a partilha dos prazeres
a explosão das emoções

as nuvens seguiram
para o oceano
deixando o castelo em ruínas

e mesmo interditado
sigo minhas visitas guiadas
pelo meu coração

Monday, January 08, 2007

ATO CIRÚRGICO

extirpa as minhas veias
as minhas artérias


lave-as com água e sabão
e depois deixe-as secar no varal

ou troque o meu coração
por outro sem amores, sem paixões

talvez eu esqueça de mim e de você
talvez eu esqueça de “doer”








entre bocejos e piscadelas
os braços apontam para o céu
na maior de todas as orações
o corpo sucumbe ao ritmo
tresloucado dos ventos
e o pensamento...
quem pensa nessas horas?
nada mais formidável
do que ver o tempo passar
e sentir aquela lentidão da alma

Sunday, January 07, 2007


UM CAIXÃO PARA DOIS
no dia que eu morrer
não quero perpetuar
a minha solidão,
mesmo que tenha sido fiel,
companheira e carinhosa
eu quero um caixão para dois
porque junto levarei
desejos, sonhos
amores e paixões
e se mesmo assim,
nenhum deles estiver comigo
a solidão, pobre infeliz,
descansará em paz




passamos boa parte da vida
procurando por alguém
almejando alguma coisa
e buscando a felicidade

vivemos outra parte
precisando desse alguém
desejando outra coisa
e questionando o que é felicidade

e ainda, vivemos alguns momentos
esquecendo aquele alguém
querendo um pouco mais
porque ainda não somos felizes

enfim, tentamos arduosamente
compensar a solidão
do nascimento e da morte
SEMÁFORO

Crianças e palhaços
Andam perdidos na cidade

Os pequenos dançam,
Fazem palhaçadas e malabarismos.

Os grandes assistem dos camarotes,
Chupam pirulitos
E avançam o sinal vermelho.


NOTURNO


olhos famintos de paixão
rastejam nas ruas abandonadas
das grandes capitais

os corpos mutilam-se no paralelepípedo
irregular

bocas, dentes e línguas
absorvem sentimentos,
carências

enquanto isso, o amor escondido
debaixo da cama
não dorme com a desafinada sinfonia
dos amantes

PRIMAVERA

jardins florescem lentamente
não espere a rapidez
da rosa e do girassol
não existe o súbito
para a margarida e a orquídea

como para os homens
um dia após o outro
é o segredo
para o tempo das flores

Saturday, January 06, 2007



















FOME

Ventos rondam minhas proximidades,

percorrem meus relevos
e penetram surdamente...

...no silêncio das minhas palavras,
onde encontram sossego
e descobrem a poesia secreta
que sacia a minha fome.



MEUS ERROS

erro quando procuro em teus olhos
as respostas para as minhas dúvidas

erro quando penso não gostar
por quem eu, inconscientemente, sou apaixonado

erro quando meus lábios dizem “adeus”
mas o meu coração sussurra
“fica para sempre comigo”

erro tanto, que nem o meu pranto
talvez possa me ajudar
os meus erros consertar


EMPTINESS

a lonely sparrow flies over the sea
taking only his memory and fantasy
losing his strength and ability to see
himself as a bird without sympathy

a lonely woman swims in the sea
taking only her pure femininity
giving up her dreams and ability to be
a sad swallow in the prison named society

Friday, January 05, 2007


SOLIDÃO
na calada da noite
um beijo estremece
as portas de meu coração
sem perfume
sem gosto
sem boca
apenas a lembrança
de teus lábios
VENDEDOR DE ILUSÕES

Quem quer comprar um sonho?
Ou uma ilusão?
Ou talvez viver uma paixão?

Vendo sonhos de todos os tipos,
de todas as cores e sabores.

Também tenho a ilusão...
para uma vida inteira,
ou para alguns anos... meses.

Ah, adquirindo um sonho e uma ilusão...
você leva totalmente de graça
a mais desejada das emoções...
a paixão!
E mais! Com a imperdível garantia
de amor eterno no decorrer do tempo.

Não vem com manual,
nem controle remoto.

O produto é eterno,
mesmo que não dure
todo o tempo que se queira.

E se algum dia
o produto falhar e trazer
apenas o sofrimento e as lágrimas,
lembre-se de que o poeta
também sofre,
porque ele acreditou primeiro
em todas as coisas
para que você pudesse acreditar.



DOIS DEDOS DE SOLIDÃO E GELO
enquanto a madrugada engole
todos os moribundos da cidade
o copo abandonado numa mesa de bar
ainda chora o gelo restante
e implora para o garçom
dois dedos de solidão