Wednesday, February 28, 2007


Doces lembranças

Tenho beijos soltos dentro de mim
Tenho carícias e palavras
Percorrendo minhas veias e artérias
E essas doces lembranças
me fazem flutuar
como a folha que se deixa seduzir
pelo vento e abandona sua árvore
para descobrir paisagens desconhecidas

Thursday, February 22, 2007


NECROPSIA
o teu olhar
me disseca
expondo minhas vísceras
e os meus desejos
revelando os meus versos
e os meus segredos
o teu olhar
me vira do avesso
me olha por dentro
me enche de vento
DESENCONTRO
no momento que tu vens
na minha direção
com as tuas malas
cheias de sonhos e solidão
eu embarco perdido
no expresso da ilusão
com destino desconhecido
até a próxima estação

Monday, February 19, 2007


PALAVRAR


Palavra-me
Como jamais o fizeram

Palavra-me com os olhos
significando sem os dicionários

Palavra-me com as mãos
caligrafando o meu corpo,
psicografando os meus sonhos.

Palavra-me de madrugada,
Para que a lua acentue
Todas as sílabas da minha poesia.

Palavra-me com a boca,
Contorne os meus lábios
Como nenhum idioma o fez.

Palavra-me com o coração
Transcreva minhas dores, o meu gozo
E o meu choro.

Palavra-me por inteiro
Para eu ficar na ponta da tua língua.








BANQUETE
Depois de devorar-te
Assim como uma maçã
Comer-te por cima e por baixo
Descubro nos teus restos
O pedaço solto de mim

Depois de beber-te
Assim como um vinho
Saborear-te em todas as gotas
Encontro no vazio da tua boca
O céu estrelado dos meus sonhos


Saturday, February 17, 2007


OBRA DE ARTE
ondas perfuram
meus casulos impermeáveis
e deles libertam
rasuras de uma vida.
na sinuosidade da brisa,
pincéis lambuzados
tentam dar sentido
mas a obra retrata
a insuficiência das cores
e a ignorância das linhas.
o ciclo é inevitável
e a obra torna-se pó.

SÊMEN-TES
em teus momentos
mais inconscientes,
quando a liberdade
do solitário pássaro
das serenatas de amor
for concedida.
o carinho limitado
rompe fronteiras
e a ilusão
passo a passo invade
teus caminhos proibidos

Friday, February 16, 2007


FAMINTO


comi como comia

o corpo esquecido

na calçada da catedral


a mesma comida

o mesmo comer


mas cada coração

pouco se conhecia


um carecia de caridade

e o outro de carinho





ENTARDECER
em algum horizonte
distante dos meus olhos
o sol se entrega aos encantos
de um final de tarde
depois de percorrer o céu
semeando estrelas

















LUA
surge
das profundezas
dos edifícios
adormece
no embalo sereno
do Guaíba















HORIZONTE


distâncias que se curvam
sobre si mesmas, formando
natureza fértil de astros
inseguros e proibidos:
sol e lua


Thursday, February 15, 2007

HOMEM-PÁSSARO
construo casas
com as minhas asas
que desabam
com os meus vendavais

AUSÊNCIA
na ausência das palavras
me restaram as lágrimas
para sublimar o meu ser
( desconstruído )
diante de tamanha grandeza
na ausência da minha'lma
acompanho o ritmo da música
sinto os perfumes que me cercam
e ocupo os meus vazios com arte
na ausência do meu corpo
sou apenas ilusão...
sujeito construído nas sinapses
de um mundo inventado

ESTRANHEZA
mãos e pés trocados
no lugar da boca... surgem braços
no lugar dos olhos... nascem garras
entre as pernas arqueadas
uma língua faminta
lambe as narinas desproporcionais
dentro dos ossos... vento
dentro do peito... intestinos
dentro do abdômen... massa encefálica
dentro da cabeça... coração
e estranhamente
duas asas dilaceram o dorso pegajoso
nos momentos de solidão

Wednesday, February 14, 2007


JOGO DA VIDA
o ar me falta
enquanto o vermelho
rompe os meus muros internos...
é como se eu fosse
um quebra-cabeça
e me misturo todo,
depois passo dias
reconhecendo os pedaços
e montando a minha vida

Thursday, February 08, 2007


PÁSSARO SUICIDA
Enlouquecido pelos homens,
um pássaro percorre o mundo
em busca da solução.
Despercebido faz de suas asas
a fuga de seus problemas.
Com o passar do tempo,
percebe o cansaço das asas
e resolve subir onde nenhum homem
tem a capacidade de chegar
por si próprio.
E lá do alto,
simplesmente recolhe as asas
contra o peito.

Wednesday, February 07, 2007

IM-PERFEIÇÃO
Da beleza do homem
permanece a hemoptise, a catarata,
o vômito azedo ou a calvície.
Da superioridade da mente
permanece o delírio, a psicose,
a depressão ou a esquizofrenia.
Dos prazeres da carne
permanece a impotência, a menopausa,
a frigidez ou a infertilidade.
Da pureza da alma
permanece o homicídio, o estupro,
o suicídio ou a miséria.
E do poeta?...
(apenas o tempo
poderá finalizar
esse poema)
da minha arte
das poesias que escrevi
todas libertaram palavras
dos meus pensamentos malditos
das poesias que estão por vir
as mesmas ainda perturbam
a calmaria dos meus desejos
e gritam... loucamente...
pela lucidez dos homens
ainda não concebidos

Sunday, February 04, 2007


ANTES DO AMANHECER
antes do amanhecer
eu quero, um novo mundo, desbravar
olhares e sorrisos, descobrir
palavras e sabores, decifrar
antes do amanhecer
eu quero, num mar de aromas, mergulhar
pele e cabelos, percorrer
por curvas e retas, caminhar
antes do amanhecer
eu quero, todos os caminhos, desvendar
para depois me perder
e nem mesmo o sol me encontrar

PRÓXIMA ESTAÇÃO
vem como um trem
percorrer os meus trilhos
visitar as minhas estações
mas não afugenta os passarinhos
que habitam os meus caminhos
vem como um trem
no meio da fumaça
e passa... passa... passa...
até a próxima estação
onde embarca o meu coração